Em um mundo marcado por incertezas econômicas, pandemias inesperadas e choques geopolíticos, o regime cambial desempenha papel crucial na estabilidade financeira de um país. No Brasil, o câmbio flutuante mostrou-se um aliado estratégico para quem produz e vende seus bens além das fronteiras.
Desde 1999, com a implementação do Plano Real, o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante. Nesse modelo, a taxa de câmbio é formada pela oferta e demanda no mercado, sem um valor oficial fixo estabelecido pelo Banco Central.
O Banco Central do Brasil (BCB) pode intervir pontualmente para garantir liquidez e evitar oscilações excessivas, mas, em geral, deixa que forças internas e externas determinem o valor do real. Fatores políticos, indicadores econômicos e eventos globais influenciam diretamente essa variação.
Quando crises internacionais e choques inesperados atingem as economias, o real costuma se desvalorizar frente a moedas fortes, como o dólar.
Esse movimento, por sua vez, funciona como um amortecedor automático para a economia. Em vez de desviar recursos para manter uma paridade fixa, o país ajusta naturalmente o câmbio, evitando pressões inflacionárias ou intervenções drásticas, como elevações abruptas de juros.
A desvalorização do real traz uma série de vantagens para quem vende ao exterior:
Para ilustrar: se o dólar sobe de R$ 5,00 para R$ 6,00, um exportador que fatura US$ 1 milhão passa a receber R$ 6 milhões em vez de R$ 5 milhões, elevando em 20% sua receita local.
Em 2008, na crise financeira global, o real sofreu forte desvalorização. Ainda assim, setores como agronegócio e mineração registraram expansão de receitas.
Durante a pandemia de COVID-19, entre 2020 e 2021, observou-se queda abrupta do real, seguida de recuperação gradual. Mesmo assim, o Brasil fechou 2024 com um superávit comercial de US$ 98,8 bilhões e o dólar oscilou entre R$ 4,80 e R$ 5,50 ao longo do ano.
Além do agronegócio e da mineração, a indústria manufatureira também se aproveita de um real mais fraco para ampliar presença internacional. No entanto, a volatilidade cambial impõe riscos.
Sem estratégias eficazes de hedge cambial, empresas podem perder até 5% da receita por conversão no momento impróprio. Por isso, muitas recorrem a instrumentos financeiros que travam taxas futuras, garantindo previsibilidade.
Enquanto exportadores comemoram, importadores enfrentam custos mais altos. Componentes, insumos e bens de consumo importados ficam mais caros, pressionando a inflação interna.
Esse cenário, porém, pode estimular substituição de importações por produção nacional, fortalecendo a indústria local e gerando empregos.
O câmbio flutuante oferece ao governo maior autonomia para a definição de políticas monetárias, sem a obrigação de sustentar um patamar cambial fixo. Dessa forma, juros e base monetária podem ser ajustados conforme as necessidades internas.
Para exportadores, algumas recomendações práticas:
Em tempos de crise, o câmbio flutuante se revela um poderoso aliado dos exportadores brasileiros. Ao ajustar-se automaticamente aos choques externos, protege receitas e fortalece o superávit comercial.
Com estratégias adequadas de hedge e diversificação, produtores e indústrias podem transformar volatilidade em oportunidade, garantindo sustentabilidade e crescimento mesmo nos períodos mais turbulentos.
Referências