Em um cenário de alta inflação e aumento de preços, o parcelamento de compras se tornou uma alternativa muito atraente para grande parte dos brasileiros. No entanto, é essencial entender como essa prática pode comprometer o orçamento futuro se não for bem gerida. Explorar os dados recentes e adotar estratégias de controle pode fazer toda a diferença para manter a saúde financeira em dia.
O parcelamento ganhou força nos últimos anos como um instrumento de acesso ao consumo, inclusive de bens básicos. Antes restrito a eletrodomésticos e bens duráveis, hoje atinge até mesmo supermercados: entre agosto de 2023 e agosto de 2024, a fatia de transações parceladas no varejo alimentar subiu de 6,2% para 7,4% em valor.
Esse crescimento reflete a fragilidade do poder de compra e uma busca por crédito para suprir necessidades imediatas. Com um tíquete médio de R$ 270 em compras parceladas no supermercado, o consumidor acaba diluindo o custo imediato, mas assumindo compromisso de longo prazo.
O uso do cartão de crédito como principal forma de parcelamento é notório: 75% dos consumidores recorreram a ele nos últimos 12 meses. No primeiro trimestre de 2025, o valor das transações com cartões atingiu R$ 1,1 trilhão, sendo R$ 721,1 bilhões em crédito parcelado.
Para compreender melhor esse movimento, confira a seguir um resumo dos principais indicadores:
Quando o consumidor acumula múltiplas parcelas em compras cotidianas, a renda futura fica comprometida. Sem um mapeamento claro, as parcelas podem se tornar uma armadilha financeira que dificulta emergências e investimentos.
Imagine alguém com três compras parceladas no supermercado, uma em eletrônicos e outra em móveis: essas dívidas aparecem todos os meses como compromissos fixos, reduzindo a margem de manobra para despesas inesperadas. O resultado é muitas vezes a busca por mais crédito, iniciando um ciclo vicioso de endividamento.
No Brasil, o modelo de até seis vezes sem juros é dominante e atrai consumidores pela falsa sensação de custo zero. Mas mesmo sem juros, há um custo de oportunidade: o dinheiro que poderia render em um investimento ou ser reservado para reserva de emergência fica imobilizado.
Já o parcelamento com juros pode aumentar significativamente o valor final pago. Por exemplo, uma compra de R$ 1.000 em 12 vezes com juros de 2% ao mês pode resultar em um desembolso total acima de R$ 1.270. Essa diferença impacta ainda mais o orçamento se não for considerada no planejamento.
Quem parcelou compras em supermercados apresenta taxa de inadimplência 30% maior do que quem paga à vista no cartão. Isso demonstra que, mesmo em bens de consumo básico, o acúmulo de parcelas sem gestão adequada pode levar ao atraso ou à incapacidade de pagamento.
Para não cair nessa situação, é fundamental adotar práticas de controle e prevenção, como:
Nem todo parcelamento é prejudicial. Quando bem planejado, pode ser uma ferramenta útil para adquirir bens duráveis ou realizar projetos maiores sem sacrificar o caixa. A chave está em comparar o valor das parcelas com as previsões de renda futura e considerar se outros compromissos não vão gerar apertos.
Algumas dicas para um uso equilibrado:
Se você já sente que as parcelas tomam conta do seu orçamento, não é tarde para agir. O primeiro passo é fazer um levantamento detalhado de todos os compromissos financeiros, classificando-os por valor, número de parcelas e vencimento.
Em seguida, priorize o pagamento das dívidas mais onerosas ou com maiores taxas de juros. Caso haja dificuldade em quitar no prazo, procure renegociar condições junto às instituições credoras, sempre avaliando o custo-benefício de eventuais descontos por quitação antecipada.
O parcelamento de compras pode facilitar o acesso a produtos e serviços que melhoram nossa qualidade de vida. Contudo, seu uso indiscriminado, sobretudo em itens de consumo diário, pode comprometer o futuro financeiro e gerar um ciclo de endividamento difícil de quebrar.
Ao compreender os riscos, controlar as parcelas e usar o crédito de maneira estratégica, é possível aproveitar as vantagens do parcelamento sem colocar em perigo a estabilidade orçamentária. O equilíbrio entre consumo e responsabilidade é o caminho para uma saúde financeira sustentável.
Referências