Nos últimos anos, o Brasil enfrentou desafios crescentes na gestão das finanças públicas. Com o antigo teto de gastos mostrando limitações para acomodar as demandas sociais e econômicas, o governo implantou o novo arcabouço fiscal. Esta mudança busca aliar disciplina orçamentária e flexibilidade, criando regras mais realistas para o controle dos gastos.
O debate sobre a eficácia desse mecanismo ganha força diante das metas para 2025, em que o país mira o equilíbrio orçamentário sem provocar entraves ao crescimento e à estabilidade macroeconômica.
O arcabouço fiscal surgiu como substituto do teto de gastos, instituído em 2016, que limitava o avanço das despesas apenas pela inflação do ano anterior. Embora tenha imposto disciplina, o teto se tornou rígido demais para investimentos estratégicos e programas sociais.
A nova proposta visa criar um mecanismo de controle mais adaptável. Segundo especialistas, ela estabelece:
Essa estrutura oferece maior flexibilidade fiscal sem abrir mão da responsabilidade com as contas públicas.
Na proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2025, o governo definiu a meta de resultado primário neutro, popularmente chamado de déficit zero. A margem de tolerância de 0,25% do PIB representa um intervalo de manobra orçamentária de cerca de R$ 31 bilhões, que pode ser positivo ou negativo.
Antes de ajustes, o Relatório do Orçamento estima um déficit primário bruto de R$ 40,4 bilhões, ou –0,33% do PIB. Contudo, a exclusão dos precatórios, no valor de R$ 44,1 bilhões conforme decisão do STF, pode virar esse quadro, gerando até um superávit estimado em R$ 15 bilhões, desde que receitas extras se concretizem.
Diante desse cenário, o governo já promoveu um contingenciamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento de 2025 para acomodar o aumento de despesas obrigatórias e queda de receitas.
Apesar das metas ambiciosas, o Congresso Nacional aprovou medidas que ampliam o déficit fiscal em R$ 106,9 bilhões para 2025, contrariando o esforço de ajuste. Para 2024, o impacto dessas decisões chega a R$ 123,25 bilhões.
Alguns exemplos dessas iniciativas são:
Esse choque entre Executivo e Legislativo ameaça a credibilidade fiscal do país e complica o alcance das metas previstas.
Para tentar equilibrar as contas, a equipe econômica adotou medidas de receitas e despesas. Entre as principais ações está o ajuste das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), diferenciando as cobranças para pessoas físicas e jurídicas.
Além disso, há planos para:
Os responsáveis pela política fiscal enfatizam a necessidade premente de consenso político para revisar metas e aprovar ajustes que tornem o cenário mais factível.
Mesmo com riscos fiscais, o Brasil mantém juros reais elevados e inflação sob controle, fatores que vêm atraindo investidores estrangeiros em busca de retorno. Porém, o elevado gasto público e a insegurança política geram preocupação sobre a capacidade de sustentação do ajuste.
Especialistas apontam que, para 2025, o crescimento do PIB pode chegar a 2,3%, mas está sujeito a variáveis como demanda interna, ritmo de investimentos e clima político.
Sem um controle efetivo das contas públicas, o país corre o risco de perder a confiança do mercado e elevar ainda mais o custo da dívida.
O cenário exige atenção a alguns pontos cruciais. A equipe econômica alerta para o limite do atual fisiologismo fiscal, capaz de promover instabilidade e até recessão, caso não haja corte de gastos e ajuste nas receitas.
A tensão entre Executivo e Legislativo dificulta avanços estruturais, já que as modificações propostas pelo governo esbarram em interesses setoriais e pressões corporativas.
Entre as principais recomendações de especialistas estão:
Somente com um esforço coordenado entre poderes será possível garantir a estabilidade econômica e retomar a trajetória de crescimento sustentável.
A discussão sobre a nova âncora fiscal representa um momento determinante para o Brasil. O desafio de equilibrar as contas públicas sem sacrificar o desenvolvimento social exige medidas firmes e diálogo construtivo.
As ferramentas já estão sobre a mesa: metas claras, contingenciamento automático e ajustes de receita. Resta agora fortalecer a coordenação entre Executivo, Legislativo e sociedade civil para que, juntos, seja possível garantir a saúde fiscal e construir um futuro próspero para as próximas gerações.
Referências